Quine e o paradoxo do mentiroso

Gustavo Jannuzzi
3 min readMar 13, 2023
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A computação e a linguagem sempre foram objeto de estudo da filosofia. Essas áreas estão intrinsecamente ligadas à nossa compreensão do mundo e da realidade. Uma questão que tem sido objeto de interesse é a auto-referência. Será que é possível um programa de computador que, quando executado, imprima seu próprio código-fonte? Essa é uma ideia fascinante por si só, mas o que torna esse paradoxo ainda mais intrigante é que ele se assemelha ao paradoxo do mentiroso.

O paradoxo do mentiroso é uma declaração que não pode ser verdadeira nem falsa. Por exemplo, a frase “esta declaração é falsa” é um exemplo clássico. Se a frase é verdadeira, então ela é falsa. Mas se ela é falsa, então ela é verdadeira. Isso leva a uma contradição, e é por isso que é chamado de paradoxo.

O paradoxo de Quine é semelhante porque é um programa de computador que imprime seu próprio código-fonte. Mas se o código-fonte é alterado, então o programa não é mais capaz de imprimir seu próprio código-fonte, o que leva a uma contradição similar ao paradoxo do mentiroso.

O paradoxo de Quine é chamado assim em homenagem ao filósofo americano Willard Van Orman Quine, que o apresentou em seu artigo “The Scope and Language of Science”. O paradoxo de Quine é uma demonstração de que a auto-referência pode levar a contradições em sistemas formais, incluindo sistemas de computação.

O paradoxo de Quine tem sido objeto de estudo em várias áreas, incluindo filosofia, matemática e ciência da computação. Ele levanta questões interessantes sobre a natureza da computação e da linguagem, bem como sobre a auto-referência e a autorreferencialidade. O paradoxo também é um exemplo da importância da auto-reflexão e da autoconsciência em sistemas formais.

“Reflections on Self-Reference” é um artigo de Douglas Hofstadter publicado em 1979, no qual ele explora o paradoxo de Quine e sua relação com o paradoxo do mentiroso. Hofstadter examina o paradoxo de Quine, que é uma versão do paradoxo do mentiroso que surge em programação de computadores, onde um programa pode ser escrito para imprimir seu próprio código fonte.

Hofstadter argumenta que o paradoxo de Quine é uma manifestação do paradoxo do mentiroso, que se refere a uma afirmação auto-referencial que é verdadeira se e somente se for falsa. Ele examina a natureza dos paradoxos auto-referenciais e como eles podem surgir em diferentes contextos, como na matemática e na linguagem natural.

Hofstadter também explora as implicações filosóficas do paradoxo de Quine e do paradoxo do mentiroso em geral, questionando a natureza da verdade e da referência. Ele argumenta que esses paradoxos sugerem que a auto-referência é fundamental para a compreensão da verdade e da linguagem, e que a lógica clássica pode não ser adequada para lidar com esses problemas.

Em resumo, o paradoxo de Quine é uma demonstração impressionante de como a auto-referência pode levar a contradições em sistemas formais. Ele tem implicações importantes para a filosofia, matemática e ciência da computação. Ao nos fazer questionar a natureza da linguagem e da computação, o paradoxo de Quine nos leva a uma compreensão mais profunda do mundo e da realidade que nos rodeia.

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Gustavo Jannuzzi

C. Software Engineer at Accenture. Interested in Data Science | Software Engineering | Ethics linkedin.com/in/gustavo-jannuzzi-a74901196/